sábado, 21 de junho de 2008

árvore peixe ruiva

brincar de esconde-esconde com as árvores é sem graça porque eu sempre ganho. elas se escondem atrás das mesmas árvores. elas nunca conseguem me achar.
não sou ateu, mas fui um teocida. matei Ele e enterrei no quintal junto de um peixinho que por infeliz precaução alimentei duas vezes no mesmo dia. será que Ele vai pro céu? agora é minha vez de ser deus. ninguém vai sentir falta Dele. ninguém sente falta de nada. ninguém tem tempo pra sentir falta de qualquer coisa. as pessoas constantemente sentem falta de alguma coisa. as pessoas correm apressadas e compram e comem e correm e reclamam e sonham e voltam a realidade e sujam e desperdiçam e pensam no futuro, que francamente, não existe. não adianta pensar numa coisa se ela não existe. até funciona, mas como exercício da imaginação, menos como prognóstico e perspectiva. o futuro é o constante-não-existível. enquanto não existir e enquanto constante, é o futuro. se o futuro existisse se chamaria presente. e se o presente fosse sinônimo de futuro, as pessoas andariam mais deprimidas. Deus não está morto, está distraído apenas. e se de repente Ele estiver morto, bom, não fui que matei. e se foi, foi sem querer.
árvores são melhores de subir do que brincar de pega-pega. Deus é um pai triste.
fiz um amuleto e saí com ela. depois saí com a outra do cabelo ruivo e bonito. ainda tive tempo de me encontrar com aquela da voz rouca. gracinha. não posso parar. me dei bem e agradeci ao amuleto. garotas bonitas e inteligentes são mais legais que subir em árvore e brincar de deus.
livros fazem você querer sair de casa, jornais não. plantei uma muda no quintal, junto do peixe e de Deus. quero que ela vire uma árvore. não tem absolutamente nada a ver com filhos e livros. tem a ver com árvore, tronco, folhas verdes, flores, passarinhos e assobios.
buzinas me dão sustos. enquanto eu não desço eu me distraio. aqui em cima estou perto de Deus, dos passarinhos e jamais ela me encontrará. daqui de cima vejo ela parada. enquanto isso penso na outra, na ruiva e na rouca. penso numa música e esqueço que está tarde e preciso descer.
adultos não brincam mais de esconde-esconde. adultos brincam de esconde-esconde o tempo todo, mas sem ninguém procurando, pois assim, a brincadeira nunca acabará.
só vou descer pra molhar minha muda no quintal. ainda bem que estou com meu amuleto.