terça-feira, 10 de junho de 2008

pessoas geniais, incompreensíveis e portanto, fundamentais pra nos preservar na nossa própria ignorância reconfortante

uma vez li um comentário incrédulo sobre fanatismo, e romântico sobre fé. dizia algo sobre a fé ser solúvel. café. inevitável associação. mas o que interessa é que uma vez Marx disse que tudo que é sólido desmancha no ar. longe de qualquer acepção sociológica ou quântica, nunca consegui associar com outra coisa senão receita de bolo. nega maluca mais especificamente. o que é sólido, cozinha e se desmancha, naturalmente, no ar. não é isso que eles quis dizer? é engraçado ser ignorante, né? ferve e evapora, mistura e desaparece sem a gente perceber. fermento, manteiga, a empelotação que a farinha produz. só consigo pensar nessa frase aplicando numa receita de bolo. pessoas brilhantes e poetas sofrem disso: incompreensibilidade. Lacan, por exemplo, se tivesse um filho, jamais teria a menor capacidade de ensinar alguma coisa -- digo no âmbito ético, social, longe de conceitos psicanalíticos -- pro moleque, afinal, se é difícil pra estudantes universitários e até professores mestrados entenderem o que ele diz, imagine uma criança de dez anos. não sei como Lacan explica que não pode jogar bola dentro de casa, mas com certeza o gurizinho não vai entender. as pessoas não entendem nem o bom-dia do Lacan. precisou transcrever um seminário pra diferenciar quando ele está dando bom-dia e quando ele está relativizando sobre o desejo (num sentido lacaniano), influenciando o sujeito e o seu subjetivo (num sentido lacaniano) perante a ética normativa da contemporaneidade. precisa de um dicionário especial pra entender Lacan, já que ele resolveu ignorar que as palavras já tinham significado próprio e pertinente antes dele nascer. mas daí ele resolveu dar um sentido lacaniano pra tudo. a mãe dele achava o menino prodígio e criativo, "olha só, ele já inventa novos significados para os paradigmas da neurose na modernidade", o pai, como todo bom pai perante um filho incompreensível só pensava, "onde foi que eu errei...". eu não poderia falar de pessoas brilhantes e incompreendidas sem citar o Nietzsche, que já começa sendo incompreendido no próprio nome. com nove letras não tem o menor cabimento apenas três serem vogais. enquanto Marx mistura marxismo e culinária, Lacan tem seus bom-dias ignorados, Nietzsche tem a impressão que ofende alguém quando se apresenta. Isso pra não falar de Freud e de como pegou mal aquela história de Édipo e coisas fálicas. no final das contas, nós, ignorantes a priori e a posteriori, enxergamos Filosofia, Psicanálise e qualquer coisa que demanda anos de estudo e talento perceptivo, como Economia. você não entende nada daquilo mas sabe que deve servir pra alguma coisa num âmbito maior. tanto faz Aristóteles ou taxa de juros Selic, aquilo que o especialista falou está falado. o que nos resta é, apenas em público, mexer a cabeça de forma desapontada, como se estivéssemos inconformados com o aumento do superávit primário ou a abordagem da razão segundo Kant. o grande Outro ainda é o próximo adversário no campeonato; luta de classes deve ser algo ligado a geral e a numerada; e déficit é quando alguém é expulso.
ignorante e contente. um estilo de vida infalível.

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