quinta-feira, 5 de junho de 2008

café, pastel, melancia

à base de café, tingindo a alvura dos meus tenros dentes mansos, leio um livro de perguntas do Neruda e faço uma anotação mental: fazer poemas de amor.
paca, tatu, cotia, não.
começo terrivelmente mal. rimas e habilidades soberbas me confundem e me distraem. assobio uma velha canção inspiradora. tão velha que fui eu que inventei, como tudo a minha volta. infelizmente, tudo ao meu redor ainda não é tudo a minha volta. e pra tudo que já fiz não ganhei meus royalties, meus reais, nem meus dólares, Dolores, nem meus dólares.
anotação mental dois: conseguir um advogado.
advogados com certeza não entendem de poesia, a não ser Castro Alves, este sim não entendia patavinas de pontaria, e com um tiro no pé, talhou aquilo que poderia ser outro, como tudo que poderia ser outro caso não fosse. nenhum substantivo rima com doce, antes fosse fosso que rima com moço. entre alvoroço de rimas pobres, primas pobres, primas nobres, e, uma família comprida e economicamente desequilibrada, volto ao tabuleiro.
uma balzaquiana me liga e incomoda muita gente. duas balzaquianas me ligam, e vocês sabem, incomodam muito mais. antes do lenço, do sorvete e da auto-afirmação de independência com todas aquelas parcelas do carro quitadas, a terceira balzaquiana aparece, contrariando estatísticas, com uma gama de cervejas platinas de nomes bonitos, mas são fabricadas pelas mesmas nossas (jamais nossas) empresas. eu bebo a bela cerveza do lado de lá, feita pelos lados daqui, enquanto meus pés acompanham o ritmo sincopado do violão ausente, presente em minha memória, presente da minha vó quando era pequeno, que eu nunca soube tocar, não pára de tocar e irradiar alegria pelos meus tendões. tenho uma porção deles espalhados pelo corpo.
entre trejeitos esquisitos, rico espanhol que deus-me-deu, segue meu trajeto. tenho fraqueza com pendências e tendência ao dengo pleno. amém meu São Cristóvão, amém.
isso é poesia pura, limão e goela abaixo!
mais uma dose ególatra e já sinto o cheiro de esquizofrenia no ar.
oh, por favor, Dolores, eu nasci debaixo da lona do circo. tiro de letra qualquer coisa colorida e saltitante. inclusive insurreições no jardim de infância. anotação mental três: conseguir uma babá, convidar Dolores pra sair. sem dó, sem dó.
não vou devolver o Neruda que eu tomei e que você tomou também.
tomei um Neruda, litros de Neruda, misturei com uma Pessoa fermentada, e foi demais para o meu estômago à base de yakult. embriagado e torpe, regurgitei as mais lindas rimas de amor no colo de Dolores.
Dolores: te amo mais que pastel de feira!
anotação mental trinta e três: comprar um cavalo branco. com mp3 player.
faço uma drenagem linfática na melancia. na base da faca. expurgo suas pedras no rim na base do cuspe. na base, uma porção de sementes. pensei em fazer um colar e dar pra Dolores, mas os passarinhos foram mais rápidos.

3 comentários:

marília rosa barbosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
marília rosa barbosa disse...

eu faria um comentário inteligente, se não me sentisse meio ralinha diante dessa avalanche criativa.

sabe, Angu, quero ser igual a ti quando crescer. até lá, fingirei naturalidade nas minhas impressões a seu respeito, ta?

só para experimentar.

beijo

Bruno Sanchez disse...

Precisa correr logo, antes que sua criatividade exploda e aleije todos ao redor.

De nada adianta ficar cuspindo aos poucos. Coloque o dedo na garganta e vomite tudo.

Só me avise quando isso acontecer. Quero estar por perto pra ver, sentir, cheirar...rs

Ótimo texto e um aperto de mão.