domingo, 30 de março de 2008

pescoço, destino e capitalismo

uma vez fui num samba e vi uma garota linda. alta, esguia, tinha um pescoço... flertei à moda antiga (no fundo sou um rapaz caipira, tímido e resignado). ela olhou de volta e foi apenas isso. rezei três aves marias e dois pais nosso pra encontrar com ela no samba de novo. não encontrei. em compensação, um tempo depois a vi numa outra balada. foi mais ou menos a mesma coisa de antes. mais foi ficando emocionante, pra tipos como eu, que gostam dessas coisas meio platônicas meio muzzarela. eis que minhas preces são mais que ouvidas e eu topo com a dita cuja no mesmo espaço acadêmico. mas então, comos os ventos que fazm curvas em lugares distantes, fui me envolvendo por outros jardins, colhendo outras flores que esse mundo brota pra perfumar nossa vida, e fui deixando minha musa de flerte de lado. até que, depois de meses e um honesto tempo suficiente pra se esquecer o que pode ser esquecido, eu topo com ela, sua beleza e seu pescoço, novamente, numa baladinha de possíveis amigos em comum.
sabe, eu comecei a achar que era coisa do Destino, essa coisa da gente se encontrar, como se tivesse, no fundo, uma finalidade romântica pra essas casualidades.
mas daí, eu pensei, juntei as peças do nosso histórico de topadas sociais e reparei que, na verdade, isso não é coisa do Destino, é a renda que é mal distribuída.
o capitalismo e a sociedade de classes acaba com o romantismo das coisas.

segunda-feira, 17 de março de 2008

sucrilho e estricnina

sempre achei domingos à noite bem mais desestimulantes que segundas-feiras. eu nem gosto muito de trabalhar, mas tento enxergar na segunda-feira uma possibilidade constante de recomeço, quase com otimismo. eu juro que não ando frequentando sessões de auto-ajuda, nem tenho um Paulo Coelho frequentando a cabeceira da minha cama. aliás, diga-se de passagem, nem o Paulo Coelho, nem nada que tenha nascido xy frequenta a cabeceira ou qualquer outra extremidade da minha cama (acuados nos dias de hoje, os heteros estão fadados a auto-afirmação. espero que nenhum psicólogo me contradiga para não me constranger). voltando, acontece que segundas-feiras são inevitáveis como o sarampo, catapora, e coisas que passam pela nossa vida com aquela certeza de que não matou e portanto engordou. claro, eu não acordo cada segunda-feira pessando assim. principalmente segundas-feiras chuvosas. daí é provocação do Grande Irmão. não bastasse o sistema te obrigar a trabalhar, impor cinco dias de labuta contra dois de descanso, ele ainda faz chover pra ver o quão disciplinado você consegue ser. eu mesmo já fiz um pacto com a CET, e a cada segunda-feira chuvosa e, portanto, plenamente desnecessária, eu sou guinchado da cama ao chuveiro. senão não há outra forma. o problema de dias chuvosos quando se é um pedestre irredutível é que o fato da minha cabeça estar seca e protegida pelo guarda-chuva não minimiza em nada minha irritação por estar com os pés encharcados. precisei de cinco minutos até o ponto pra me convencer de chegar ao trabalho e jogar fora as minhas meias. precisei chegar ao trabalho pra ter certeza que já estava calçando um par de aquário. não tenho nada a comentar sobre frieiras e a provável lectospirose paulistana impregnada no meu já abatido pé. também não vou comentar sobre o moço que me vendeu um tênis que era pra ser impermeável.
segundas-feiras chuvosas são prevenidas logo no café-da-manhã com sucrilhos e estrecnina. mas sem abusar do açúcar, que faz mal.