quarta-feira, 14 de maio de 2008

tratado sobre a insônia - parte I

côncavo. convexo. em vão, me proponho a condições inusitadas na cama. o sono é o pior dos meus aliados. aliás, sempre atrasado, displicente e com tendências à insubordinação no meio da madrugada. estou quase pra me livrar deste fardo. como mulher de malandro, me deixa aqui esperando, tarde da noite. por onde ele anda à essa hora que deveria estar aqui?
de manhã, de ressaca, ele aparece, me enganando, pegajoso, cansativo...
mau caráter, meu sono é do tipo inconveniente.
quando estou no cinema concentrado, ele pede atenção.
quando me despeço e vou ao trabalho, me persegue.
agiota, vingativo, me arrebata com juros depois do almoço.
a última vez que nos desfizemos, foi quando apareceu aquela moça doce de sorriso fácil. meu sono aos poucos foi me evitando, percebendo que não podia dar atenção a ele enquanto pensasse nela.
mas isso é passado. hoje eu conto com ele pro dia de amanhã. eu sei que não vou longe sem ele.
a ausência do meu sono me perturba, me adoece. e as pessoas já reparam no nosso desquite.
apontam no meu rosto, no meu cabelo, no meu entusiasmo.
diziam que nossos hábitos eram incompatíveis. ele tinha repulsa ao meu café preto.
hoje, prostrado, eu decoro cada vicissitude do teto.
fecho os olhos, tento apenas esquecer, e já posso escutar seus passos trôpegos se aproximando.

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