domingo, 12 de abril de 2009

Peréia

Já não tinha um nome, carregava um estigma. O surto-delícia durou o necessário e o suficientemente incontável, como provavelmente deveria ser. O livro arranhado era apenas uma forma de construir sem as mãos, sem a fala. Sem a fala ainda flui, sem a linguagem, dói. Construía em pensamento. Sempre elevados nas melhores das intenções. Afinal, ele errava como se bastasse ao homem o certo. Ora, como se apenas o certo nos bastasse. O que basta, afinal, quando o sentido somos nós que criamos? Nós, e isso inclui eles. Em todos os seus estágios. Em todas as margens. Em primeira, segunda e terceira instância. Jamais respectivamente. Não seria assim tão previsível, a não ser que você queira e, então, sinta-se à vontade a chamar alguém com a justa competência. Por aqui não se fala mais em competência. Nem em chance. Jamais em eficiência. Me torno violento se ouvir falar em desempenho. Principalmente ótimo. Aqui se fala apenas em volume, peso e textura. Se fala cromaticamente. É um impulso, não uma frase. É apenas um sintoma, não uma reflexão.O que vêm a mim não me pertence, e deve voltar para o adiante, o que fica, apenas, é um devir. Um vir a ser. Ciclicamente, cinicamente. Consciente apenas quando convém. Também tenho nome e um espaço só meu junto da catraca. Junto ao homem sem nome. Junto das senhoras cansadas e vividas. Todos de uniforme. Tenho direito a tudo que é pequeno e limitado quando obediente e regulado. Regulador. Fica a impressão de ter a satisfação apenas de pretender. Fingindo que me engano. Fingindo que te engano. Fingindo que me engana. Fingindo que não é conosco. O vai-e-vem de sempre é o meu pequeno eterno-retorno. O dia-a-dia me acompanha com minha sombra. Se repete. Como minha sombra me repete. Me acompanha sombriamente. Sóbria. Fria. Calculável. Bem delineada quando perto, embaçada quando longe. Não sou eu que controlo a luz nem a sua intensidade. Me engano quando penso que controlo que falo. Seria ingenuidade legítima pensar que controlo o que vejo. Sirenes avisam a hora de parar de conversar contigo. A hora em que você tapa os ouvidos para o quevem de baixo, para o que vem em roda, na ciranda. Pra o que canta e expõe o que é pra ser visto. Isso também não controlamos. A sirene desperta. Desvia. A sirene avisa: saia da frente. Corra. Almoce. Volte. Saia novamente. Páre. Estou parado. Mesmo em movimento. Mesmo em pensamento. Continuo parado mesmo com a Terra neuroticamente rodando ao redor do Sol. Psicótica. A Terra é linda. Perseverante, um dia ela consegue o que quer. Obsessiva, não enxerga mais ninguém. Um dia nós conseguimos o que queremos. Dar sentido ao que criamos. Criar com base no sentido. Sentir, criar, doar, receber em troca, ganhar. A tendência é adiante, sempre. O Sol se dá ao luxo de explodir. Aproveita. Aproveita e explode mesmo. Senta-te ao Sol e abdica. Sejamos reis todos nós! Reis e amigos dos poetas! Sejamos aquilo que prentedemos ser. Ao modo de Gandhi, ao modo de Nietzsche, à moda da casa. A prova dos nove é o meu parangolé hasteado nas minhas costas. Alegria em riste. A gravidade é burlada. A flutuação rizomática, perene e indelével foi homologada. Esqueçam as catracas. A condução fica por conta do maestro. Um instante!

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